Partindo do conto "The Legend of Sleepy Hollow" de Washington Irving publicado em 1820, Tim Burton teceu mais uma de suas histórias incríveis e um de seus filmes mais impressionantes em relação ao visual. A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (Sleepy Hollow, 2000) pode até parecer um filme de entretenimento despretensioso, mas contém muitos elementos preciosos que resultam em cinema da mais alta qualidade.
Ichabod e os apetrechos que ele mesmo criou para descobrir a verdade a partir da ciência |
Para desespero de Ichabod (em todos os sentidos, pois além de se
apoiar na ciência em todos os aspectos, o policial também é um pouco medroso),
a explicação dos moradores do vilarejo para os assassinatos é fantástica: foi o
espírito maligno, o Cavaleiro Sem Cabeça, que cometeu os crimes. Segundo a
lenda, ele era um mercenário (Christopher Walken) contratado por uma princesa
alemã para lutar pela causa inglesa, mantendo os norte-americanos sob domínio
da Inglaterra. Mas sem interesse no dinheiro, ele queria mesmo era participar
da carnificina, com um prazer sinistro em decepar seus inimigos. Sua morte em
batalha deveria trazer alívio aos habitantes de Sleepy Hollow, mas agora, 20
anos depois, ele voltara a assombrá-los.
Recusando-se a acreditar nas superstições locais, Ichabod
acredita piamente que o assassino de Sleepy Hollow tem carne e osso, e está
determinado a encontrá-lo.
Da mesma forma que vamos descobrindo os mistérios envolvendo
o Cavaleiro Sem Cabeça e o que move os assassinatos, embarcamos em um mergulho
nas lembranças do próprio Ichabod, cujo horror em nada deve aos acontecimentos
que o policial está vivendo em Sleepy Hollow. As terríveis memórias da infância
ajudam a explicar o comportamento excêntrico de Ichabod.
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça mescla cenas de uma
delicadeza impressionante, como o beijo que Katrina (Christina Ricci), de olhos
vendados, dá em Ichabod em meio a uma brincadeira, com outras de uma
brutalidade extrema, como os assassinatos. No entanto, assim como Burton voltou
a fazer em Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, o diretor opta por
deixar o sangue com uma tonalidade alaranjada e uma consistência pastosa,
claramente falso, para suavizar as cenas mais violentas.
A fotografia é estonteante. Utilizando na maior parte do tempo
os tons frios e sombrios, o filme quase se passa em preto e branco. Não deixa
de ser uma homenagem ao gênero do terror no começo do século passado, assim
como a cena o moinho pegando fogo, em referência a Frankenstein. No entanto a
paleta de cores ganha tonalidades mais quentes em momentos específicos, como
nas memórias de Ichabod ou quando o policial está com Katrina.
Reunindo um elenco estelar, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça
ainda conta com Michael Gambon (o Dumbledore de Harry Potter) como Baltus Van
Tassel, Miranda Richardson como a Lady Van Tassel e Richard Griffiths como o
juiz Philipse. Até o grande Christopher Lee aparece para fazer uma pontinha
como um juiz lá no começo do filme.
O filme reúne o que há de melhor de Burton: suspense e
terror na medida certa, a excentricidade com pitadas de comédia, a fotografia
fabulosa (o filme ganhou o Oscar em direção de arte), os personagens
cativantes, as reviravoltas surpreendentes e o roteiro impecável. É recomendação
máxima a qualquer um que goste do cinema de Tim Burton ou simplesmente esteja
a fim de se divertir com um ótimo filme.
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