20 de set. de 2012

Era uma vez: O Rei do Inverno - As Crônicas de Artur

Posted by Aline Guevara On 20:48 0 comentários

Qualquer um que que se interesse pelas histórias do rei Artur deveria ler O Rei do Inverno (The Winter King). Qualquer um que goste de fantasia deveria ler O Rei do Inverno. Qualquer um que goste de ler bons livros deveria ler O Rei do Inverno

Estabelecidas essas premissas, devo dizer que demorei para ler o livro de Bernard Cornwell. Não foi por falta de avisos sobre a qualidade do escritor, mas depois de ler a maravilhosa série As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, não tinha muita vontade de ver aquela história sendo recontada. Bobagem. A versão de Cornwell sobre o mito do herói medieval britânico tem personalidade própria, assim como os personagens que dão vida a ela.  

Cornwell é um historiador inglês que busca recriar a lenda de Artur com bases históricas, portanto uma das maiores alterações que ele traz aos seus livros é o fato do herói nunca ter sido rei. Sim, é isso mesmo que você leu, nos livros As Crônicas de Artur, ele não chega a ser monarca, mas é um grande guerreiro que tentará unir a Britânia e trazer a paz aos diferentes povos que ali vivem. Ele é protetor do verdadeiro herdeiro do trono, Mordred, o bebê neto do grande rei Uther Pendragon.

O primeiro livro da trilogia As Crônicas de Artur nos apresenta o narrador que nos contará toda a história em primeira pessoa, Derfel. Nascido saxão, povo rival dos britânicos, ele foi criado por Merlin de acordo com a religião antiga e se torna um dos cavaleiros e amigo próximo de Artur. No presente da narrativa, Derfel é um monge cristão que escreve a história de Artur a pedido de uma nobre, Igraine. Como ele narra em ordem cronológica os eventos, nos deixa tão curiosos quanto a moça. Depois de tantas histórias sobre a lenda de Artur já nos sentimos íntimos dos personagens e é inevitável nos relacionarmos com sua ansiedade de Igraine.

"Igraine brincou com a cruz que usava no pescoço.
  - Fale de Lancelot.
  - Espere!
  - Quando Merlin chega?
  - Logo."

No fim, a maior curiosidade fica por descobrir como Derfel, tão devoto dos deuses antigos e da religião de Merlin se tornou um cristão a seguir as ordens de um homem de quem não respeitava. Mas o final de sua história não é revelada em O Rei do Inverno, afinal, esta é só a primeira de três partes.

Cornwell cria personagens apaixonantes, a começar por seu narrador. Derfel é o típico herói que luta com todas as forças pelo que acredita e por quem ama, sem vacilar na coragem ou em sua honra. É interessante ver seu crescimento ao longo do livro, assim como as diferenças entre o jovem guerreiro e o velho cristão. Artur é outro personagem fácil de gostar, como nos apresenta Derfel, uma daquelas pessoas cuja presença traz alegria a todos e cuja falta deixa um vazio.

Merlin demora a aparecer no livro, mas quando finalmente surge, vale a pena. Espirituoso, divertido, sarcástico, egoísta e misterioso, é um dos personagens mais interessantes do livro. Guinevere é outra. Para gostar dela exige-se um pouco mais de esforço, afinal ela é frívola, fútil, gosta de se insinuar a outros homens e é a principal causa da guerra que se abate sobre a Britânia. Mas também tem uma mente afiada e presença arrebatadora, além de ser pagã e criticar fortemente a imposição cristã sobre as outras religiões. Morgana, infelizmente, aparece pouco e nada lembra a protagonista de As Brumas de Avalon. Das mulheres, quem rouba a cena é Nimue, sacerdotisa de Merlin que tem uma forte personalidade e convicção, além de ser muito próxima a Derfel.

Cornwell deve ter se divertido ao criar a personalidade de Lancelot, afinal ele é a grande piada do livro. Longe do grande guerreiro e braço direito de Artur a que estamos acostumados, ele é covarde, vaidoso, mentiroso e toda a glória e fama que possui foram adquiridas pelas falsas odes cantadas pelos bardos.

A narrativa não para, nunca é cansativa e ao fim do livro você fica surpreso com o tanto de acontecimentos narrados em O Rei do Inverno. Mesmo nos momentos em que você acredita que serão monótonos, Cornwell surpreende criando passagens envolventes. Portanto, se não está convencido da qualidade do escritor, corra ler seus livros e tenho certeza que não vai se arrepender.

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