18 de ago. de 2012

Crítica: O Vingador do Futuro

Posted by Bueno Neto On 16:48 0 comentários



Imagine um mundo arrasado pela guerra química, onde o espaço pra se viver é o bem mais precioso, onde a individualidade é suprimida pela superpopulação claustrofóbica e anônima, sua identidade apagada por uma rotina comum e monótona. Viver em um ambiente assim leva qualquer um a querer sonhar com uma vida melhor, talvez ser outra pessoa, alguém importante e não um simples operário. E nesse mundo, pagando bem você pode fugir da realidade e ter as lembranças que quiser, do sonho que melhor te convir, até ser um agente secreto que salva o mundo libertando pessoas como você da vida igual a que você mesmo deixou para trás.


Esta é a trama central de O Vingador do Futuro (Total Recall, Direção Len Wiseman). Não é difícil transportar o tema para nossos dias ou um futuro próximo, não precisa nem imaginar a guerra, mas a superpopulação anônima, a rotina da monotonia... Quem não se imaginou tendo outra vida ou sendo outra pessoa? O melhor do tema do filme, já explorado por Paul Verhoeven em 1990 na primeira versão do Vingador do Futuro, é contrapor a vida mundana que o personagem Doug Quaid leva com a vida que ele paga para sonhar e todo medo e ansiedade que toma conta quando esse sonho se mistura com a realidade e você não pode acordar.


Em toda primeira parte do filme essa trama é muito bem exposta, até mesmo melhor que sua versão de 1990, não só a tecnologia atual permite cenários mais grandiosos e arquiteturas estranhas, como o diretor soube preencher esses espaços e fazer um clima claustrofóbico. Nos diálogos é perceptível a monotonia e o desejo de sonhar de Doug Quaid. Quando o personagem principal compra sua viagem de memórias falsas, pode-se dizer que o primeiro arco do filme terminou e infelizmente a criatividade e talento do diretor Len Wiseman também. Começa então uma perseguição ininterrupta ao personagem durante todo filme. O que deveria ser a ação sendo usada como recurso para desenvolver a história acaba tornando-a uma desculpa para ter ação, esquecendo todo questionamento e profundidade que poderia advir desta trama para um show de fugas e acrobacias com carros voadores e elevadores que voam em todas direções no melhor estilo Willy Wonka.


Não estou dizendo que a versão de 1990 com Arnold Schwarzenegger é o ápice da filosofia na ficção científica, mas pelo menos tinha um ritmo intercalado na ação que dava tempo para respirar e desenvolver a trama, dava tempo para realmente se questionar se o que estava acontecendo com Doug Quaid era real ou parte das memórias que comprou. Na versão atual não existe tempo a não ser para correr, num ritmo tão intenso que sequer se importa se é real ou não.

Na nova versão o roteiro pode não ser bem explorado, mas a ação é muito competente e a perseguição de  Lori atrás de Doug pela favela futurista que se tornou uma parte do mundo é realmente empolgante. Inclusive Kate Beckinsale como a personagem tem uma interpretação tão divertida que algumas vezes me peguei torcendo para ela. A cena em questão é muito bem dirigida e o ângulo que o diretor usa mostra a perseguidora e perseguido em momentos diferentes simultaneamente, lembrando muito jogos de vídeo game.



O diretor também soube agradar os fãs da versão de 1990, colocando diversas menções ao original, como a velha mulher em frente o detector de metais declarando que ficaria "two weeks" e, claro, a polêmica mulher de três seios.

Em resumo, o filme que começou tão bem e tinha tudo para ser um filme de ação recheado de trama e boas ideias acaba se tornando uma filme de ação genérico, sem brilhantismo e até o carisma fica por conta da vilã, pois Doug Quaid de Colin Farrell é apagado e sem sal, nem sequer tem os carismáticos bordões de Schwarzenegger como "considere isso um divórcio".

Como O Vingador do Futuro atual se distanciou da trama que tão bem desenvolveu no começo, eu também vou distanciar minha apreciação que inicialmente tive por ele, então, "considere isso um divórcio".




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