Mad Men é uma série incomum. Costumo imaginá-la como subversiva, inclusive, pois subverte tudo o que é padrão e dá certo na televisão ainda assim produzindo um dos melhores seriados em vigência. E essa quinta temporada não só manteve a qualidade dos anos anteriores como conseguiu superá-los. Está parecendo whisky, quanto mais tempo passa, melhor fica.
(Spoilers da temporada)
Don (John Hamm) está casado. E feliz. O início do romance com Megan (Jessica Pare) no final da quarta temporada colocou muitas dúvidas na cabeça dos fãs sobre como o publicitário se portaria com a moça e se o relacionamento dos dois não iria terminar da mesma forma como ocorreu com Betty (January jones). Quanto tempo levaria para Don se envolver com outra mulher? Aparentemente, muito mais do que qualquer um imaginaria.
Um Don feliz também significa um Don acomodado. Ao que parece, a genialidade do publicitário também é resultado de sua mente em constante turbulência, mas como a vida com Megan é mais tranquila, suas ideias também se aquietaram. Vemos o personagem mais burocrático e administrador e menos do profissional que costuma encantar seus clientes. Ao menos enquanto dura o conto de fadas do casal, pois quando castelo criado pelos dois começa a ruir, vemos relances do antigo Don.
Mas o brilhantismo da série não consiste somente em seu complexo protagonista, mas nas mulheres de Mad Men e estas ganham bastante espaço nessa temporada. Megan, umas das grandes surpresas da série, representa o jovem e o frescor na Sterling Cooper Draper Pryce, ainda incólume do ambiente opressivo da agência. Não à toa, é dela o desabafo certeiro logo no episódio de estreia: “Vocês nem conseguem se desculpar. Qual é o problema de vocês? São todos tão cínicos, nem sorriem de verdade”. A melhor personagem ao lado de Don, Peggy (Elisabeth Moss) está a meio passo de se acomodar na posição de chefe que assumiu, mas apesar de sua qualidade na área de criação, não tem o reconhecimento que merece. A gota d’água vem quando é humilhada por Don na frente dos colegas e sem pensar muito, resolve aceitar uma melhor proposta de trabalho e sair da SCDP, finalmente cortando o laço que a prendia ao mentor.
Mas quem rouba a temporada para si é mesmo Joan (e se Christina Hendricks não ganhar o Emmy eu paro de acreditar na premiação). O arco da história da volta de seu marido é muito bem encaminhado, que em pouco tempo deixa de ser o motivo da felicidade da personagem para se tornar sua frustração. O modo como consegue se desprender do casamento para pensar no que é melhor para ela mesma e para o filho recém-nascido é louvável. Mas é protagonizando o episódio “The Other Woman” que a ruiva se supera. Fácil um dos melhores episódios de toda a série, este coloca em discussão a aceitação dela em transar com um executivo da Jaguar para conseguir a conta da empresa para a SCDP e ainda conquistar o posto de sócia da agência. Com uma belíssima edição, as cenas da apresentação para os executivos da Jaguar que são mostradas paralelamente enquanto Joan tem o encontro com um deles ainda fazem uma triste comparação da mulher com o carro que vendem. Isso, somado ao impacto que a repetição da visita de Don a casa dela tem, agora sob um novo ponto de vista, já valeriam o episódio.
"Vamos fingir que eu não sou o responsável por tudo de bom que aconteceu com você" |
Mas “The Other Woman” ainda conta com o pedido de demissão de Peggy e a cena em que ela explica a Don que está deixando a SCDP é digna de aplausos. Chega a ser assustadora a performance de John Hamm, emocionado e irritado com a moça. E a despedida dos dois, com direito a um beijo na mão da moça, é muito comovente.
Enquanto Joan é parabenizada por sua promoção, conseguida através de meios que deverão atormentá-la, Peggy sai da agência com suas coisas de cabeça erguida e sorriso no rosto em direção ao elevador (este aliás que foi palco de muitas cenas icônicas na temporada, como a curiosa visão que Don tem da porta aberta sem que o elevador esteja lá). A primeira, cada vez mais enraizada na SCDP, enquanto a outra, livre para se tornar maior e melhor do que jamais conseguiria na agência.
E como só Mad Men teria a coragem de fazer, a única história introduzida com o intuito de ser desenvolvida só aparece no episódio 10, faltando apenas três para o final de temporada. Lane (Jared Harris), que sempre pareceu tão correto, forja a assinatura de Don e pega dinheiro da agência para resolver problemas financeiros pessoais, e inclusive empresta dinheiro no banco em nome da SCDP, achando que em breve as quantias irão equivaler ao bônus que os sócios, inclusive ele, receberiam no final do ano.
Lane aprecia pela última vez a vista da sua janela |
A reação de Lane é terrível. O desespero que começa na sala de Don vai ganhando proporções cada vez maiores e a revelação de sua esposa sobre a compra de um Jaguar de presente para ele, agora desempregado, parece ser o golpe final. A teia que começou a ser tecida lá no episódio 8, "Lady Lazarus", cujo título remete ao texto intenso de Sylvia Plath que fala sobre a morte (quando ela própria cometeu suicídio não muito tempo depois de ter escrito) se completa em "Comissions and Fees", episódio 12, com o suicídio do personagem por enforcamento dentro da agência.
O suicídio do colega afeta a todos, principalmente Don, por questões óbvias. O publicitário prefere guardar para si o desfalque que Lane provocou, para não manchar a imagem do morto. Mais um segredo para Dick Whitman.
Na próxima temporada devemos ver a agência crescendo e agora, sem Lane e com Joan no grupo de sócios, poderemos ver como a ruiva se sai agora em posição de poder. Don deu sinais que continuará sentindo os efeitos da morte do colega, afinal não é o primeiro suicida que cruza a sua vida, o fantasma do irmão volta a assombrá-lo. O casamento com Megan também é uma incógnita, pois é difícil dizer qual será a reação de Don à proposta da moça no bar. E espero que possamos ver Elisabeth Moss no próximo ano, pois Peggy é uma personagem boa demais para sumir de Mad Men.
Obs: Como fã recente da série (comecei a assisti-la esse ano), devo dizer que nas primeiras duas temporadas ainda ficava com o pé atrás com quem a aclamava como o melhor programa da televisão. Agora, ao fim dessas 5 temporadas eu olho para trás e penso, porque eu demorei tanto tempo para acompanhar Mad Men??
A sexta temporada de Mad Men vai trazer uma nova estrutura para os sócios da Sterling Cooper Draper Pryce (e certamente um novo nome também) |
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