Cansado dos vampiros fofinhos, românticos e politicamente corretos que assombram as livrarias e os telões do cinema?
Anime-se! Scott Snyder preparou uma resposta à altura dessa onda pop vampiresca mamão com açúcar.
Vampiro Americano é o resgate da brutalidade, das dimensões sombrias e sanguinárias do universo vampírico.
Para engrossar o caldo sanguinolento, ninguém menos que o mestre do horror colaborando com o ataque. Stephen King, autor de O Iluminado e Torre Negra, investe como co-roteirista.
E a mordida certeira foi dada na escolha do desenhista: o brasileiro Rafael Albuquerque, portador de linhas ágeis, fortes e agressivas.
A história é dividida em duas etapas. A primeira, ambientada em fins do século XIX, conta a gênese de Skinner Sweet - larápio do oeste americano que se mete a roubar o banco de um poderoso e vampiresco europeu.
Sweet é pego, e no entrevero com o banqueiro de dentes afiados é contaminado acidentalmente pelo sangue do magnata. Consequentemente, se torna a primeira espécie de uma nova linhagem de sanguessugas.
Até então o velho oeste era dominado por fidalgos europeus, detentores do poder financeiro e bárbaros assassinos de vítimas incautas da noite estadunidense. A dicotomia entre civilização e barbárie, o confronto entre as identidades culturais europeia (supostamente superior) e americana (tida como rústica e atrasada) são alguns dos pontos fortes da obra.
O sangue europeu em contato com os glóbulos de Skinner Sweet acabam por produzir uma espécie de vampiro mais agressiva e beneficiária da luz do Sol. Quarenta anos depois de emergir da lápide, já na década de 1920, o vampiro americano chega à Los Angeles, diante da explosão do cinema hollywoodiano.
Anti-heroi, Sweet surge das sombras, salva a pele de Jones e lhe dá uma segunda vida, com alguns "recursos" a mais, para que ela consiga perpetrar justa vingança contra seus algozes.
O desenho de Rafael Albuquerque traduz a violência pretendida pelo roteiro e pelos diálogos, com traços fortes, um pouco estilizados, um tanto realistas, valendo-se ainda de cores intensas e límpidas que catalisam a dramaticidade das situações.
Os recortes e os cenários lembram planos e
paisagens dos filmes western de Sérgio Leone, dando significados especiais à existência das personagens e condicionando suas ações. O embate entre o oeste ancestral e a modernidade está presente e acompanhar o desenrolar da trama, no ritmo veloz em que é contada, é impactante.
Aos amantes da nona arte basta mencionar que Albuquerque e Snyder alcançaram a láurea máxima dos quadrinhos pelo trabalho. Segundo o anedotário das Hqs, na entrega do prêmio Eisner, o brasileiro proclamou um estrondoso "foda!", e um jornalista americano, da plateia, anotou "fada", ao registrar a interjeição do artista.
A edição nacional cobre os cinco primeiros volumes da história. A partir do sexto tomo (sem previsão por aqui), Scott Snyder assume como único roteirista, prescindindo do auxílio de Stephen King.
Esteticamente sofisticado, com diálogos precisos e cores pungentes, Vampiro Americano é um dos melhores lançamentos deste primeiro semestre. Cinematográfico, guarda paralelos com filmes como Era uma Vez no Oeste, Blade e até Bastardos Inglórios, no que carrega de revanchismo americano contra a megalomania europeia.
Serviço
Vampiro Americano
Editora Panini
Ano de lançamento: 2012
Número de páginas: 200
Preço: R$ 56
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