10 de abr. de 2012

Das prateleiras: O Labirinto do Fauno

Posted by Aline Guevara On 22:54 0 comentários

O Labirinto do Fauno poderia ser descrito como a mistura da terrível realidade de uma guerra e um conto de fadas sombrio. Mas para quem acompanha a menina Ofélia tentar sobreviver à dura realidade ao lado de seu cruel e sádico padrasto enquanto vive perigosos testes para atestar sua identidade como a princesa perdida do mundo subterrâneo, a descrição pode parecer simplista demais. Delicado e trágico ao mesmo tempo, o filme do excepcional cineasta Guillermo Del Toro é fácil um dos melhores projetos já realizados sobre o tema.

Vivida pela talentosa Ivana Barquero, a protagonista vive na Espanha do ano de 1944, durante a ditadura de do general Franco. A menina se muda junto com a mãe para casa do novo padrasto, o capitão Vidal (Sergi Lopez), militar a serviço do governo que persegue rebeldes comunistas e não poupa seus esforços ou sua criatividade para exterminá-los de forma sádica e doentia.

Tendo que conviver nesse ambiente degradante, Ofélia encontra uma saída. A menina descobre um labirinto nos jardins da propriedade do padrasto, habitado por um monstruoso fauno, que lhe revela sua verdadeira identidade: ela é a princesa perdida do reino subterrâneo. Mas a jovem precisará provar sua identidade realizando três difíceis provas e só então poderá regressar ao seu verdadeiro lar.

Este filme poderia bem ser uma sequência do projeto anterior de Del Toro, A Espinha do Diabo, no qual a temática fantástica sombria também é utilizada para lidar com a história de crianças em plena Guerra Civil Espanhola, durante os anos de 1936 a 1939. Mas neste, o diretor consegue se superar não só criando uma trama mais poderosa mas também utilizando a fotografia, a direção de arte e a trilha sonora para criar um ambiente arrebatador.


Acostumado a trabalhar com cenários de fantasia (afinal, Del Toro também é o idealizador dos filmes Hellboy), o diretor utiliza primorosamente os tons sombrios e sem vida para criar a realidade de Ofélia enquanto os ambientes fantásticos, como a sala do banquete, ganham cores intensas e vívidas. Já a maquiagem não merece menos elogios, afinal o mímico Doug Jones está fantástico dando vida tanto ao fauno do título e quanto a assustadora criatura com olhos nas palmas das mãos.


A trilha sonora de Javier Navarrete é simplesmente incrível. Transformando-a em uma doce e melancólica canção de ninar, o compositor imprime todo o teor dramático da vida de Ofélia. Os acordes imediatamente transportam o ouvinte para a fantasia sombria de Del Toro. Merecidíssima a sua indicação ao Oscar.


Considerado pesado graças as suas cenas violentas, em sua maioria protagonizadas pelo capitão Vidal, é surpreendente perceber o quão mais assustadora e terrível é a realidade dos seres humanos em oposição ao que a fantasia pode oferecer.

Um dos pontos mais interessante da história é a possibilidade de seu final testar a mente do espectador, que pode interpretar a jornada e o destino de Ofélia tanto como uma realidade escapista e trágica ou como uma fantasia sombria. Um filme que merece ser visto e revisto e em nenhuma das vezes vai ser encarado da mesma forma.



0 comentários:

Postar um comentário