O traço dos desenhos de Mortos-Vivos, feitos por Tony Moore não é rebuscado, leve, cheio de floreios. Na verdade é simples e cru. Os personagens não são mais bonitos nas páginas do que são na versão em carne e osso, como ocorre em muitas publicações. Pelo contrário. Às vezes os traços “toscos” até deixam os personagens com uma aparência estranha. Mas, claro, é intencional. Nada do que é mostrado nos quadrinhos é bonito.
Rick é chefe do grupo e como ex-policial, assume o posto de líder com facilidade. Até demais. Ao longo da história todas as características dos personagens vão sendo testadas pela pressão da situação vivida. Depois de algum tempo, a sua liderança começa a ganhar contornos sombrios. Afinal, o que ocorre quando se tem muito poder em condições de extrema violência quando não há nada nem ninguém para controlá-lo?
Temos Shane, o amigo não tão amigo de Rick que deseja a sua esposa e também o lugar de pai na vida do filho do parceiro. Ele assume a liderança do grupo inicialmente, até Rick se juntar a eles. E ele não gosta nada da inversão de papéis.
E se Lori parece amar o marido, isso não a impediu de encontrar consolo nos braços de Shane enquanto Rick estava em coma, o que vai levantar suspeitas em relação a quem é o pai do filho que carrega na barriga. Sim, além do caos pós-apocalíptico, a moça consegue ter um caso extraconjugal e ainda por cima engravidar. Como se o drama de fugir de zumbis insaciáveis todos os dias e ver pessoas morrendo ao seu redor o tempo todo não fosse o suficiente, ela decide trazer mais uma vida a esse mundo lindo!
Andrea provavelmente é a melhor personagem feminina da HQ (muito diferente da série, que a transformaram em alguém quase insuportável). Sensata, corajosa, com opiniões fortes e ainda por cima a melhor atiradora do grupo. Dale, o mais velho do grupo, mas nem por isso menos valente que a jovem, é a voz de razão e de sabedoria do grupo. Temos ainda muitos personagens relevantes, como as crianças Carl e Sophia, o forte Tyresse, a misteriosa e implacável Michonne, o religioso Hershel, os apaixonados Glenn e Maggie, a insegura Carol, a divertida Amy. Muitos rostos deixam a história e outros tantos entram nela. É difícil saber quem estará vivo na página seguinte.
De acampamento na floresta ao acolhimento em uma fazenda e à descoberta de uma prisão, o grupo, ou o que vai restando dele, tenta sobreviver. Tentam arrumar sentido para essa sofrida sobrevivência e pouco a pouco perdem as esperanças de resgate ou retorno às suas vidas comuns. As detalhadas explicações sobre como a tragédia começou são deixadas de lado para abrir espaço a teorias e suposições. Afinal, o que nos importa são essas pessoas, sua jornada, quem elas são e, principalmente, o que se tornarão caso tenham algum futuro vivas. Ou, como sugere o próprio Rick, seriam mortas-vivas?
Para quem não consegue comprar as caras edições da HQ, existe uma opção: você pode fazer o download dos quadrinhos pelo site thewalkingdead.com.br.
HQ X Série
Algumas das principais diferenças entre a HQ e a série de TV está na condução dos personagens e isso afeta bastante em sua personalidade. Como muitos fãs dos quadrinhos insistem em lembrar a cada vez que o Rick do seriado faz alguma coisa considerada fraqueza, sua versão graphic novel é muito mais bad ass. Talvez diante dos atuais acontecimentos da série o Rick das telinhas fique um pouco mais parecido com sua versão em preto e branco: mais explosivo e menos moralista.
A ordem dos acontecimentos também é diferente. Por exemplo, na série, o grupo encontra o CCD (Centro de Controle de Doenças) logo no começo, enquanto na HQ, muita coisa ocorre antes. Há uma grande diferença também entre quem vive e quem morre e quando e como.
Como muitos leitores dos quadrinhos perceberam (e levaram um tapa na cara com isso), Kirkman decidiu dar um novo destino aos personagens. A pequena Sophia saindo do celeiro como zumbi foi a primeira prova disso, uma vez que nos quadrinhos ela está bem viva. Ao passo que a mãe dela, Carol, deixada viva na série, morre na HQ. A morte de Dale na segunda temporada do seriado também foi outro baque para os leitores, já que ele fica vivo durante muito mais tempo nos quadrinhos e, bem antes de morrer, tem uma relação romântica com Andrea (o que não ocorre na série).
E também Shane, é claro, que morre logo no início dos volumes dos quadrinhos e permanece vivo durante duas temporadas, prolongando sua história (o que foi excelente para a série!). Sua (SPOILER*SPOILER*SPOILER) morte no penúltimo episódio da temporada, 2X12 Better Angels, segue a ordem inversa ao que ocorre na HQ: primeiro Rick o mata a facadas e depois Carl atira nele quando se levanta como zumbi. Na graphic novel, primeiro o menino o mata com uma bala e depois Rick retorna à sua tumba para lhe dar um fim definitivo quando descobre que todos os mortos voltarão como zumbis.
Kirkman já declarou que está deliciado em poder recontar a história e dar rumos diferentes a ela e a seus personagens. E assim, se a série é influenciada pela HQ, os quadrinhos também sofrem a ação reversa. O personagem que até agora só existe na TV e é muito popular entre os fãs, Daryl Dixon, deve dar as caras nas páginas em preto e branco. Como o próprio criador da história chamou a atenção dos fãs, a capa do próximo volume da HQ traz um homem armado com uma besta (a arma que Daryl usa!)...
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