4 de fev. de 2012

Crítica: Histórias Cruzadas

Posted by Natália Lins On 22:40 0 comentários

“Não acredite em tudo que dizem antes de ver com seus próprios olhos”. Essa é mais uma lição que aprendi ontem, assistindo “Histórias Cruzadas”. Cheguei ao cinema esperando por algo catastrófico, sem muita expectativa. Isso aconteceu devido a alguns comentários que li dias antes. Confesso que é até melhor quando vamos assistir a um filme nessas condições, porque quando chega ao final você está orgulhoso de não ter se deixado levar pelas percepções alheias.

O que vi passar diante de meus olhos foi um filme que teve a proeza de transmitir uma parcela do que seres humanos são capazes de fazer com outros, por causa de um mísero detalhe: a cor de sua pele. Infelizmente é algo que, apesar dos anos ainda está presente na sociedade. A sutileza com que foi abordado um tema de tamanho peso na história humana foi admirável. Agora eu entendo o porquê ele teve tantas indicações ao Oscar.

A história acontece no Mississipi, nos anos 1960 e narra a trajetória de Skeeter (Emma Stone), uma garota sulista que saiu de casa para se formar em Jornalismo e retorna com a vontade de se tornar escritora. Não se contentando com o emprego no jornal da cidade ela vai atrás do que realmente quer fazer, escrever um livro. Ela decide abordar um tema muito polêmico para a época, a versão das mulheres negras, todas empregadas domésticas, que passaram a vida inteira cuidando das proeminentes famílias da alta sociedade. O paradoxo está na “coragem” das mulheres brancas deixarem seus filhos serem criados por essas domésticas e, pela falta dela ao se recusarem a dividir o mesmo banheiro.

A primeira a lhe conceder entrevista foi Aibileen (Viola Davis), que com uma sensibilidade tremenda foi capaz de transmitir sentimentos doloridos e profundos, através de olhares, pequenos gestos e até mesmo das alterações em sua respiração. Impossível não se comover com a amargura e a dor que ela carrega, e são esses mesmos sentimentos que a encorajam a ir até as últimas conseqüências na luta pela voz ativa, por seus direitos. Ao seu lado, Minny (Octavia Spencer), incorpora a figura de brava que não quer dar o braço a torcer, tanto que acaba sendo a personagem cômica da trama.


Nascido e criado no Mississipi o diretor e roteirista Tate Taylor, apesar da pouca experiência, conseguiu ilustrar a beleza bucólica da cidade, um cenário muito bem escolhido, simples e repleto de significados. Com um olhar singelo apresenta o contraste entre, o luxo e o conforto das casas dos patrões e a miséria dos casebres das empregadas. Sem contar o figurino fidedigno à época (e nem vou falar o quanto os vestidos são lindos!).

Emma Stone me surpreendeu, pena que não no bom sentido. Com trejeitos e expressões corporais que não chegaram aos pés de Viola Davis, não conseguiu cativar o público mesmo com o ato que resultou em todo o resto da história. Na maioria das vezes ela não foi capaz de demonstrar seus sentimentos e convencer o espectador, o que a tornou um personagem (mesmo que revolucionário), enfraquecido.

Uma adaptação da obra literária da norte-americana Kathryn Stockett, que obteve o sucesso através da composição de bons fatores: boas atrizes, boa fotografia e sem dúvida uma boa história, com direito a quebra de absurdas barreiras e paradigmas, que tiram do ser humano a beleza de ser o que é: apenas humano.


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