“Não acredite em tudo que dizem antes de ver com
seus próprios olhos”. Essa é mais uma lição que aprendi ontem, assistindo “Histórias Cruzadas”. Cheguei
ao cinema esperando por algo catastrófico, sem muita expectativa. Isso
aconteceu devido a alguns comentários que li dias antes. Confesso que é até
melhor quando vamos assistir a um filme nessas condições, porque quando chega ao
final você está orgulhoso de não ter se deixado levar pelas percepções alheias.
O que vi passar diante de meus olhos foi um
filme que teve a proeza de transmitir uma parcela do que seres humanos são
capazes de fazer com outros, por causa de um mísero detalhe: a cor de sua pele.
Infelizmente é algo que, apesar dos anos ainda está presente na sociedade. A
sutileza com que foi abordado um tema de tamanho peso na história humana foi
admirável. Agora eu entendo o porquê ele teve tantas indicações ao Oscar.
A história acontece no Mississipi, nos anos 1960
e narra a trajetória de Skeeter (Emma Stone), uma garota sulista que saiu de
casa para se formar em Jornalismo e retorna com a vontade de se tornar
escritora. Não se contentando com o emprego no jornal da cidade ela vai atrás
do que realmente quer fazer, escrever um livro. Ela decide abordar um tema
muito polêmico para a época, a versão das mulheres negras, todas empregadas
domésticas, que passaram a vida inteira cuidando das proeminentes famílias da
alta sociedade. O paradoxo está na “coragem” das mulheres brancas deixarem seus
filhos serem criados por essas domésticas e, pela falta dela ao se recusarem a
dividir o mesmo banheiro.
A primeira a lhe conceder entrevista foi
Aibileen (Viola Davis), que com uma sensibilidade tremenda foi capaz de
transmitir sentimentos doloridos e profundos, através de olhares, pequenos
gestos e até mesmo das alterações em sua respiração. Impossível não se comover
com a amargura e a dor que ela carrega, e são esses mesmos sentimentos que a
encorajam a ir até as últimas conseqüências na luta pela voz ativa, por seus
direitos. Ao seu lado, Minny (Octavia Spencer), incorpora a figura de brava que
não quer dar o braço a torcer, tanto que acaba sendo a personagem cômica da
trama.
Nascido e criado no Mississipi o diretor e
roteirista Tate Taylor, apesar da pouca experiência, conseguiu ilustrar a
beleza bucólica da cidade, um cenário muito bem escolhido, simples e repleto de
significados. Com um olhar singelo apresenta o contraste entre, o luxo e o conforto
das casas dos patrões e a miséria dos casebres das empregadas. Sem contar o
figurino fidedigno à época (e nem vou falar o quanto os vestidos são lindos!).
Emma Stone me surpreendeu, pena que não no bom
sentido. Com trejeitos e expressões corporais que não chegaram aos pés de Viola
Davis, não conseguiu cativar o público mesmo com o ato que resultou em todo o
resto da história. Na maioria das vezes ela não foi capaz de demonstrar seus
sentimentos e convencer o espectador, o que a tornou um personagem (mesmo que
revolucionário), enfraquecido.
Uma adaptação da obra literária da
norte-americana Kathryn Stockett, que obteve o sucesso através da composição de
bons fatores: boas atrizes, boa fotografia e sem dúvida uma boa história, com
direito a quebra de absurdas barreiras e paradigmas, que tiram do ser humano a
beleza de ser o que é: apenas humano.
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