Você está lá, andando de boa na sua cidade e dá de cara com uma barraquinha do diabo, com o próprio sentado lá amigavelmente, esperando que alguém se interesse pela placa: “O que você quiser. $ = sua alma”. Esse é o primeiro quadrinho de Sinfest e sim, um dos personagens, Slick, senta na barraquinha.
Então é um HQ satânica? Não,
longe disso. Tá mais pra budista (além do autor, Tatsuya Ishida, ser americano descendente de japoneses, Buddha
também aparece). Sinfest é uma HQ cibernética (e que tem alguns livros lançados
no exterior) que parodia tudo que tem direito, principalmente a moral e a
religião. Deus, na série, usa fantoches dos personagens ou outros para se
manifestar, sempre fazendo alguma voz de acordo e se escondendo atrás de nuvens.
Somente quando o assunto é mais sério a tipologia usada muda, para mostrar
autoridade. (Quando Lil-E tenta peitar deus, este responde: “Eu, tipo, criei o
universo, sabia?”, e Lil-E, desbocado, retruca: “E daí, quer um cookie por
isso?”).
Não posso deixar de mencionar
também uma tirinha em que deus fica bêbado e dorme... e o diabo acorda porque
sobrou pra ele governar o mundo (com festas de arromba e orgias).
O diabo é um capitalista de mão
cheia, dono de redes que parodiam os Illuminatti, McDonalds, FoxNews, indústrias
pornôs e até itens religiosos, entre outros. Enfim, o que for viciante ou causar
idolatria (no caso dos itens religiosos e SEymour, vide abaixo). Vive em sua mansão ultra-mega protegida com
seu cachorro de três cabeças e suas ajudantes, Blue e Fuchsia, duas devil-girls
que atormentam as almas que estão no inferno e seduzem os vivos para vendê-las.
Mas, passado alguns anos, há reviravoltas.
Tanto deus quanto o diabo tem
seus fanboys: Lil-E e Seymour. O primeiro é um típico troll da internet, paga
de mau pra todo mundo, diz ser preconceituoso, mas idolatra o diabo, querendo
ser melhor amigo dele, algo nem um pouco mal. Tem outros objetos “ruins” para
prova que é mau: um console de wii em forma de tridente, um pelúcia do cachorro
de três cabeças do diabo e cereais “maus”.
Já Seymour é o típico americano conservador, que tem uma auréola falsa na cabeça, que usa como acessório, e vive pregando por aí, sempre com Biblía em mãos e expondo seus preconceitos com orgulho, mas é medroso. Tem armas e é viciado em tudo que ele acredita ser de Jesus, visita constantemente uma lojinha de artigos religiosos que pertence ao diabo.
Há também dois anjinhos, Ariel e
Ezekiel, que infernizam o diabo e tentam ajudar os personagens, sempre muito
alegres e jogando purpurina nos outros. E também Jesus faz participações
especiais, ora jogando baseball com o pai, ora imitando Goku de Dragon Ball,
entre outras situações non-sense.
E no meio disso tudo, estão
Monique, Slick, Squigley, Criminy. Os dois primeiros são artistas, cantores ou
algo do gênero (eles fazem apresentações em palcos, ora dançando, ora fazendo
rap). Nique é mais popular pela beleza e atributos físicos que usa
esporadicamente pra incendiar os rapazes (em uma tirinha, ela e Slick fazem uma
bela música que não atrai público, mas é só levantarem um pouco a blusa e saia
que chove dinheiro neles). Nique tenta ser ativista, vegetariana e atualmente,
andrógina, se rebelando contra o que nos quadrinhos está sendo chamado de Patriarquismo,
e sendo apresentado como a Matrix.
Slick é o típico cara que quer
pegar geral mas não tem carisma nem inteligência pra isso. Gosta mais do corpo
das mulheres e é por isso que se interessa. Vendeu a alma pro demônio em troca de
sucesso, fama e mulheres, mas teve o pedido recusado porque a alma dele não
pagava isso. Quando foi aceito... recusou, por Nique. Slick tenta viver compreendendo
o que está ao seu redor, principalmente as mulheres, tentando não ser pego
entre deus e o diabo. Tem um laptop antropomórfico que já o tirou do inferno.
Squigley é um porco, fã de
esportes, comida e de maconha. Sempre que fuma, seu sofá sai por aí como se
fosse um avião, que ele pilota. O personagem usualmente ajuda Slick, seu melhor
amigo, e também é alvo de preconceitos, seja porque é um porco, porque o acham
feio ou gordo. E ele tenta lidar com isso.
Criminy não aparece muito no
começo. É um típico garoto da biblioteca, sempre embaixo de uma árvore lendo,
apelando para a razão e sendo extremamente educado. É geralmente a voz da razão
(a única) da HQ. Tem dois livros de estimação: um Necronomicon (alguém perdeu e
o diabo lançou um “BOMF” nele que deu vida ao livro) e uma Bíblia (que era de Seymour).
Os dois livros se comportam como cachorros, e ele tenta domá-los. Passado algum
tempo, desenvolve uma amizade e algo mais com Fuchsia.
Há também participações especiais
de Buddha e de um dragão oriental (uma divindade). Buddha está sempre em cima
de uma nuvem, sempre “zen”, nunca fala e espalha sua “zensidade” quando
necessário (Jesus e o diabo também lançam coisas nas pessoas, Jesus salva,
claro, e o demônio torna as coisas más ou as queima). O dragão conversa com
deus, discutindo a vida humana e filosofia.
Outros personagens são o próprio
quadrinista e seus dois animais: o gato Percy e o cachorro Pooch (que é
cachorro em inglês). Percy é o típico gato que não ta aí pra nada, é um
destruidor de novelos de lã, satirizador de Pooch e acha que o dono serve a
ele. Mas tem um coração mole, como vemos quando Pooch fica doente. Já Pooch é o
típico cão: feliz, ama o dono e sua bolinha, sua comida e sua vida, um completo
otimista. E o quadrinista... é um quadrinista que vive na mesma cidade que os
outros personagens, buscando inspiração, chamado de “Mestre” pelos animais.
Há também o Uncle Sam e Lady
Liberty, que aparecem quando o autor fala da política dos EUA. Obama (superstar)
também já apareceu como um herói. Há participações da morte, um assassino
contratado, e dos anos novo e velho (um bebê e um senhor que é caçado pela
morte)
Sinfest é uma das melhores (pra
mim, a melhor) webcomic. Trata de assuntos sérios e mundanos, e também morais e
religiosos com ironia, sarcasmo e, por vezes, com seriedade. Aborda
principalmente questões de gênero, relacionamentos, sexualidade e religião. Por
vezes também aborda política. Tem romance, ação e reflexões, tudo com muita
comédia. Há evolução de personagens, de mentalidade dos personagens e do traço
do autor. A história, diária (nos domingos é maior e colorida!), é bem
desenvolvida e gera identificação com qualquer público. Se você entende inglês,
não deixe de conferir! É viciante.
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