22 de dez. de 2012

Crítica: As Aventuras de Pi

Posted by Thaís Colacino On 14:05 0 comentários

Pi conta uma história que pode convencer um escritor a acreditar em Deus. Mas As Aventuras de Pi faz acreditar mesmo é na magia do cinema.

Os filmes de Ang Lee costumam trazer à tona emoções das pessoas, e As Aventuras de Pi não é diferente. Começando com várias cenas dos animais do zoológico da família de Pi, o espectador pode pensar que se tratará de um filme parado e monótono. Ledo engano. Pi não é chato nem enfadonho, mesmo quando foca em seu protagonista e no tigre por muito tempo, proporcionando o ritmo exato para que se entenda o absurdo da situação e absorva todas as belas cenas (tanto visuais quanto metafóricas) que o filme proporciona.


Em As Aventuras de Pi acompanhamos Piscine Molitor Pate (sim, ele chama piscina por um determinado motivo) contando a um escritor a história de seus 227 dias de naufrágio. Ele e a família estavam se mudando com o zoológico para vender os animais no Canáda e começar uma nova vida. Porém, o navio cargueiro sofre um acidente e Pi consegue sair em um bote junto com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre. 227 dias no mar aberto, sem terra nem suprimentos suficientes e um animal enorme, assustado, carnívoro e faminto.


O protagonista segue três religiões: o hinduísmo, cristianismo e islamismo, além de ensinar cabala na faculdade em que trabalha. Por conhecer milhares de deuses, ele não tem preconceito com nenhum e consegue manter as três crenças sem problemas e, o mais importante, sem deixar o lado racional, algo requisitado sabiamente pelo pai. Toda a criação e estudos tornam Pi um garoto extremamente inteligente e criativo, exemplificado desde a forma de tentar evitar bullying na escola até como construir com poucos recursos um ponto seguro longe de um tigre faminto no mar aberto.


A presença de tela de Pi (Suraj Sharma) é extremamente eficaz. O talentoso e estreante ator consegue manter o interesse mesmo quando ele está sozinho no filme, o que é praticamente o filme todo. Claro que ele tem a companhia do digital tigre Richard Parker, cujo nome tem uma história engraçada. Em nenhum momento o espectador acredita que aquele é um tigre majoritariamente de computação gráfica, tamanho o empenho colocado em reproduzir o comportamento e movimentos do animal.


O visual do filme é soberbo e a fotografia muito bem trabalhada. As cenas da aventura fantástica de Pi são super coloridas, até etéreas, fazendo referências às épocas felizes e sonhadoras de Pi na infância. O filme descolore frente à realidade sombria da vida, como quando ainda criança, Pi descobre a verdadeira natureza de Richard Parker, ou quando narra uma tragédia do naufrágio que evidencia a podridão da alma humana.


O filme nos presenteia com uma história tocante, que é complementada com belas cenas no mar, onde, por exemplo, é indistinguível o oceano do céu, ou há um desfile de águas vivas luminosas, ou mesmo uma baleia, o pôr-do-sol, ou o tigre Richar Parker observando. O 3D ajuda no aspecto de profundidade e nas sobreposições utilizadas para juntar o passado de Pi com a história que conta.


São poucos os filmes que conseguem unir sensibilidade e um visual incrível a uma história tocante. Que nos faz refletir e voltar a revisitá-la em pensamentos diversas vezes, se emocionando novamente. As Aventuras de Pi o faz tudo isso magistralmente, podendo facilmente ser considerado um dos melhores filmes do ano (e talvez de todos os anos).

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