19 de mai. de 2012

Crítica: O Corvo

Posted by Aline Guevara On 13:08 0 comentários


O filme de suspense O Corvo carrega um peso previamente. Primeiro, porque retrata, ainda que ficcionalmente, os últimos dias de Edgar Allan Poe, um dos maiores gênios da literatura norte-americana. Segundo, porque é dirigido por James McTeigue, eterno diretor de V de Vingança. Sempre que se cria expectativas em relação a alguma obra, você precisa estar preparado para certas frustrações.

No filme, John Cusack parece à vontade no papel do excêntrico Poe. Logo no início da história, nas divertidas cenas na taverna e na redação do jornal, o próprio escritor dá vazão há algumas das suas mais conhecidas características. Alcoólatra, crítico, dotado de humor cínico e apaixonado por seus textos, na esperança de reconhecimento que raramente vem.

Após a descoberta de um assassinato brutal de duas mulheres, que traz em si todos os detalhes de execução do conto de Poe “Os assassinatos da Rua Morgue”, o escritor se vê arrastado para a investigação policial ao lado do sério inspetor Fields (Luke Evans). Mortes continuam a ocorrer e o serial killer claramente se baseia em diversas obras de Poe para realizá-las. Quando o serial killer captura a doce Emily (Alice Eve), interesse amoroso do escritor, e a mantém enterrada viva (alusão a várias histórias de Poe), a investigação se torna ainda mais pessoal e cresce a urgência em decifrar os enigmas propostos pelo assassino.

Sempre mantendo o tom sombrio, o filme transforma até a festa de gala em um ambiente assustador. Baile de máscaras, claro. Mesmo as cores fortes da peça teatral, ganham uma aparência aterrorizante e os ambientes ao ar livre da cidade de Baltimore estão acompanhados por um céu nublado e névoa por todos os lados.


Ainda que a investigação seja empolgante de acompanhar, com cenas de perseguição bem realizadas, é um tanto surreal perceber que o vilão da trama é praticamente onipresente. Está em todos os lugares nos quais a investigação converge: no esgoto, no teatro, na igreja... E mais surreal ainda é ver como ele escapa facilmente, só na base da corrida, de toda uma equipe de policiais.

Alice Eve, ainda que protagonize um romance desnecessário com o protagonista, consegue cativar com sua doçura e nos faz sofrer pelo terrível destino da personagem. As cenas da jovem dentro do caixão conseguem ser piores do que todas as outras mortes.

É inevitável a comparação com os filmes recentes de Sherlock Holmes e outros tantos que virão por aí, como Abraham Lincoln – o caçador de vampiros, que colocam grandes intelectuais do passado em meio a cenas de ação. Ao menos este respeita a atmosfera mórbida e soturna da literatura de Edgar Allan Poe. E as citações recorrentes à obra do escritor podem servir de incentivo a novos leitores de seus textos.

Infelizmente, o filme é repleto de clichês. O roteiro acaba seguindo as saídas fáceis e previsíveis de qualquer história de suspense e investigação.

O Corvo não chega a ser um filme ruim, pelo contrário. Durante todos os 111 minutos de projeção a atenção na trama é constante, na tentativa de solucionar o mistério junto com o escritor. Mas ao chegar ao final, fica a sensação de em poucos instantes, você vai esquecer tudo o que assistiu e vai prestar atenção em qualquer outra coisa. E mediocridade é um tanto menos do que se poderia esperar de uma história com a presença de Edgar Allan Poe.

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