5 de jan. de 2012

Era uma vez: Do sonho à realidade

Posted by Fátima Leite On 16:53 0 comentários

Em uma das principais obras do século XX, Mia Couto leva o leitor a viajar por Moçambique.

Duas histórias e a busca por algo em comum, a própria sobrevivência. O romance de Mia Couto, um dos autores moçambicanos mais lidos em seu país traz à tona uma miscelânea de sentimentos que se misturam em diversas situações, e uma forma diferente de contar história. Terra Sonâmbula é uma narrativa repleta neologismos (remete à Guimarães Rosa), com muito sofrimento envolvido, até porque o contexto histórico ao qual se situa é a guerra.

Os paralelos entre duas histórias que caminham simultaneamente e vão se esclarecendo ao leitor na maioria das vezes durante a batalha ferrenha pela vida.

O menino Muidinga, que sobrevive à realidade daquela época por intermédio de Tuahir, homem que o acolhe e leva consigo, cuidando como se fosse seu próprio filho. O batalhador Kindzu, o qual a vida não lhe reserva uma parcela razoável de sorte e tem que lutar pelo que quer, ou para que algo mude em sua vida, decide então ir atrás dos naparamas – guerreiros que usam arco e fecha e são protegidos pelos feiticeiros pela ação de balas.







Talvez procurar naparamas seja apenas uma forma de esperança de sair de uma situação a qual não se sente pertencente. Talvez, ler sobre a história de Kindzu, algo que Muidinga insiste em fazer quando encontra os cadernos com as narrativas, seja apenas uma forma de protelar esperanças para, da mesma forma, esquecer a realidade.

Essa leitura dos cadernos instiga o leitor, principalmente no início, pois desperta a curiosidade, o que vai aos poucos perdendo certa intensidade para dar lugar ao envolvimento.

Quando Kindzu encontra Farida, se apaixonando, abrindo mão de seu sonho de procurar os naparamas, para ir em busca do filho dela, Gaspar, o enredo ganha certo suspense, em onde estará o garoto, e adquire outro, quem realmente é Farida?
Em relação às duas histórias, esta é a fantasiosa, que faz os leitores saltarem da realidade, e Muidinga também, que com a companhia de Tuahir, vão viajar pelas páginas dos cadernos, e esquecer um pouco a dura realidade. Mas é importante citar, nas histórias não há só paralelo, elas se assemelham em um contexto diferente.

Apesar de o autor usar uma linguagem diferente, com ênfase no significante, o enredo desperta mais atenção por se tratar de histórias, uma verossímil, a outra não, mas que fogem do comum.
Despertando sentimentos como sofrimento, alegria, esperança, é assim que a história flui, com final inesperado onde cada personagem se dirige para um destino diferente, pelo menos do que leva a entender que teriam. Tuahir caminhar para a morte após tanta tentativa de sobrevivência?

As funções da linguagem referencial, emotiva e metalingüística (na relação leitor com personagem) e poética estão presentes no livro e o enriquecem.

A obra, que foi considerada um dos doze melhores livros africanos do século XX vai além de um simples relato, existe a preocupação com a organização de idéias e palavras, um olhar artístico. Gera efeito de catarse no leitor, principalmente àquele que pertenceu ou esteve indiretamente ligado ao contexto da guerra porque já vivenciou sofrimentos similares.

A escolha pelo título do livro é peculiar, o autor consegue juntar todo o sentido da história, uma terra de guerra que não tem direito ao sono, mas tem direito ao sonho e à arte.

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