28 de dez. de 2011

Era uma vez: E o mundo (não) se acabou...

Posted by Gui Barreto On 23:56 0 comentários

"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar/
Por causa disso minha gente lá de casa começou a rezar..."
(Assis Valente, 1938)



Como de costume, semana passada estava fuçando as prateleiras mofadas de um sebo no centro da cidade quando me deparei com um livro no mínimo interessante. Chama-se "O Mundo Acabou", do Alberto Villas, publicado pela Editora Globo, em 2006. Na capa verde-musgo, um garotinho e uma garotinha brincando sobre um cavalinho de madeira. Fiquei batutando o que aquela combinação tinha a ver com o fim do mundo. Achei a proposta totalmente sem nexo, e por isso mesmo resolvi levar!

Na contracapa, uma série de propagandas de produtos antigos, que, na sua maioria, não existem mais, davam as boas vindas em preto e branco aos leitores. O livro então começou a fazer sentido para mim. Na descrição introdutória, antes do início da narrativa, o autor usa como dica para o que viria pela frente uma reportagem da revista Life, de 1990, que dizia que até o ano 2000 a chave já não existiria, sendo totalmente substituída pelo cartão magnético.

É com esse espírito de falso saudosismo que Alberto Villas conta histórias de produtos, roupas, nomes, publicações e outros artigos que não deveriam mais existir, por conta da tecnologia e do capitalismo selvagem, mas existem nos recônditos do nosso país! Por incrível que pareça ao leitor globalizado (entende-se como nascido em cidade grande), a maioria dos produtos taxados como extintos no livro, na verdade ainda reinam absolutos em alguns cantos, como é o caso da minha cidade natal, Jacutinga, no sul de Minas. Como Villas faz no texto, dizer que papel almaço, envelope verde-amarelo, goma arábica, sabonete Lux, Bicho-Papão e Minâncora já não existem em lugar algum é forçar a barra.

Por ser extremamente autoral, o fato de O Mundo se Acabou pecar nas generalizações é compensado pelo humor latente do autor, que consegue dar um encadeamento rítmico ao livro, fazendo com que o leitor tenha fixação em continuar lendo mais e mais capítulos (já que a obra é dividida em "coisas extintas", que ficam uma em cada página). Esta separação facilita a leitura, deixando-a mais fragmentada e gostosa de ser feita.

Para os nostálgicos de plantão, é uma boa oportunidade de voltar ao passado, e para os jovens, de conhecer como o mundo chegou ao que é hoje por meio de artefatos comerciais. É evidente a pesquisa intensa ao qual se sujeitou o autor para que ele chegasse ao resultado obtido. O Mundo Acabou é uma obra para toda a família, que merece ser prestigiada pelo toque de curiosidade, entretenimento, conhecimento, estética apurada do produto editado e proximidade afetiva do autor com todos os assuntos, o que faz com que nós, leitores, viajemos junto com ele a um mundo prestes a acabar.

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