Para alguns, o perfume perfeito é uma mistura das mais variadas flores e temperos. Para Jean-Baptiste Grenouille, protagonista de O Perfume, História de um Assassino, seria uma mistura das essências de garotas. Uma em particular.
Jean-Baptiste não é um humano comum. Ele possui um olfato extremamente apurado, sendo capaz de recordar e catalogar cada cheiro, mesmo quando criança. Isso talvez explique o outro fator curioso: ele próprio não possui cheiro algum. E nem fala.
A alegria de Jean-Baptiste é justamente seu olfato, mas é também sua perdição. Em determinado momento do livro, ele sente um odor magnífico e único que deseja para si, mas não sabe como obter; o cheiro de uma garota.
Trabalhando como aprendiz de um perfumista, Jean-Baptiste aprende a retirar o cheiro das coisas, mas sabe que o que ele mais deseja será difícil e de nada adiantará se não tiver odores complementares que destaquem a nota principal no fim, como todo bom perfume. E então ele começa a matar.
Acompanhar os passos de Jean-Baptiste em toda sua metodologia e obsessão dá muito a que pensar. O medo que os outros sentem dele pela falta de odor se transforma em ódio contra si próprio por não ter justamente o que mais ama - a única coisa que ama.
A obsessão em conseguir não um odor, mas "O" odor, é lógica e, ao mesmo tempo, corrosiva. A busca incansável pelo que mais deseja pode tornar Jean-Baptiste, sempre tão cuidadoso, em alguém desleixado, além de ser, poeticamente, sua ruína.
O Perfume, História de um Assassino, escrito pelo alemão Patrick Süskind e publicado em 1985 não é para os de estômago fraco. As extensas descrições olfativas podem enojar alguns, ainda mais pela história se passar na Paris do século XVIII, com esgotos a céu aberto que podem ser uma metáfora da hipocrisia e sujeira política e civil da cidade. Leitura obrigatória.
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