Há algum tempo, quando a onda do livro Cinquenta Tons de Cinza começou, vi uma postagem em algum lugar (provavelmente no 9GAG), dizendo o seguinte:
"Nunca vou desrespeitar minha coleção pornô colocando 50 tons próximo à ela, e nunca vou desrespeitar minha coleção literária colocando 50 tons próximo à ela".
Eu deveria ter levado esse aviso à sério.
O segundo livro da trilogia começa até de forma interessante. Ana e Christian terminaram devido a incompatibilidades de preferências e agora passam um tempo separados. Essa parte foi obviamente o segundo livro de Crespúsculo, o Lua Nova (lembrando que 50 tons era fanfic da série). Pelo menos a autora, E L James, tem o discernimento de não prolongar um livro todo no término do relacionamento e, enquanto Bella ficava ouvindo música indie e tentando se matar, Ana, ambientada em um mundo real, vai trabalhar.
Claro que o suspense, se é que havia algum, de como a história seguiria, acaba junto com o primeiro capítulo. Assim Cinquenta Tons mais escuros passa a tratar de Eclipse, com uma ex maluca de Christian armada por aí, entrando na casa dele e causando problemas. Há também outros probleminhas menores que são resolvidos lentamente, deixando-se arrastar pelo livro e até para o próximo, mas que, para quem prestou atenção nas informações deste segundo livro, não chegam a ser ameaças de fato, parecendo até muito patéticas.
Enquanto isso, no reino encantado de Bella Swan Anastasia Steele, os sonhos da garota foram realizados: o cara lindo e rico a quer e está disposto a mudar por ela. Claro que ele é um controlador compulsivo e dominador, mas hey, ele só está protegendo-a e, mesmo brigando com ele por isso, ela aceita no fim. Ou seja, ela não queria ser submissa sexual, mas virou submissa de qualquer forma. Afinal, ela praticamente trabalha para ele, veste roupas que ela não escolheu e por vezes nem come o que escolheu. E, no fim do livro, quando fala de uma situação e recebe um "você não precisa agradá-lo sempre", responde com "eu quero agradar meu homem".
Descobrimos o passado e trauma de Christian, que são até plausíveis e, mesmo com poucos anos visitando um psicólogo, ele miraculosamente dá uma guinada para recuperação. É a força do amor.
Amor? Mas... no livro eles se conhecem há... bom, eles não se conhecem. Eles transam há quatro semanas, se separaram uma e voltaram e já se amam e não conseguem mais viver um sem o outro. E daí eles começam de fato a se conhecer. Se a situação em Eclipse (sim, AQUELA situação) já era ridícula, e os personagens se conheciam há um ano, imagine um mês. É.
Depois de descoberto o amor, o livro vira uma melação sem fim de declarações possessivas e fúteis. O sexo, tão alardeado na hora de vender o livro, continua no 'baunilha' e com poucas variantes, e chega a ser maçante de tão repetitivo, só mudando o lugar onde é feito (barco, elevador, mesa de sinuca, etc). E. Por. Algum. Motivo. A. Autora. Acha. Que. Falar. Assim. É. Excitante.
A autora parece ter se inspirado em novelas mexicanas nos últimos capítulos, com direito a tapas e bebidas jogadas na cara de ex-amantes. Fiquei até surpresa de não ter puxões de cabelos e arranhões. O engraçado é que toda a cena servia para mostrar a natureza dos sentimentos da tal amante, mas pareceram mostrar muito mais da protagonista: uma mulher egoísta, que deseja que o namorado acabe a única amizade que tem com quem parece de fato tê-lo ajudado, mas mantém um amigo praticamente nas mesmas condições sentimentais.
O Sr. Grey também não é tão apaixonante, parecendo uma mistura de mulher ciumenta e possessiva com uma criança cheia de brinquedos, e homem durante o sexo. As qualidades mais ressaltadas dele são obviamente a beleza e riqueza, mesmo que ele seja engajado em melhorar o mundo, qualidade citada uma ou duas vezes. Acho que podemos contar o bom gosto musical.
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