11 de ago. de 2012

Crítica: À Beira do Caminho

Posted by Natália Lins On 23:43 0 comentários




“A música desperta sensações. Ela me liberta de mim mesmo, torna­-me
autoconsciente, com se eu pudesse ver­-me e sentir-­me de longe. Por isso a
música me fortalece: depois de cada noite musical, vem uma manhã plena de
idéias claras e originais”.
NIETZCHE


A música tem mesmo um poder transformador, capaz de despertar as mais diversas sensações. Nietzche estava certo. Foi munido desse recurso que Breno Silveira realizou um incrível trabalho em À Beira do Caminho, um filme baseado nas canções de Roberto Carlos.

O road movie narra a história de João (João Miguel), um homem que encontrou na estrada e na vida de caminhoneiro uma escapatória para tentar esquecer os dramas do seu passado. Sua vida é transformada quando seu caminho se cruza com uma figura inocente, o menino Duda (Vinícius Nascimento), que se esconde em seu caminhão em busca de uma carona, órfão de mãe e que sonha em encontrar o pai, que nunca conheceu. A partir desse encontro, nasce uma relação que abalará o equilíbrio construído por João para enfrentar seus fantasmas.

Terceiro trabalho de Breno, que também dirigiu 2 Filhos de Francisco (2005), um dos maiores sucessos do cinema nacional, e Era Uma Vez..., além de Gonzaga, de Pai para Filho, cinebiografia que contará a trajetória de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha que deve estrear até o final do ano. À Beira do Caminho surgiu a partir de uma idéia de Léa Penteado, jornalista próxima de Roberto Carlos. Depois de muita negociação o Rei liberou o uso de apenas quatro músicas, das 12 previstas inicialmente.

O roteiro, escrito por Patrícia Andrade, que também trabalhou com o diretor em seus dois trabalhos anteriores, foi dividido conforme as canções; A Distância, que retrata o amor perdido de João; Amigo, momento em que Duda emociona João e os aproximam; Outra Vez, onde João começa a resolver seu passado; O Portão, quando o caminhoneiro se rende.


Uma história cheia de encontros, relações mal resolvidas, e a difícil tarefa de saber lidar com a perda, junto ás canções de Roberto Carlos nos momentos mais sensíveis, fazem o drama emocionar o espectador (no cinema, lenços e mais lenços saíam das bolsas). O diretor já declarou que gosta de emocionar as pessoas (e o fez com muita proeza), e que jamais faria uma comédia ou um policial.

Sem sentimentalismos demasiados, o longa surpreende em todos os quesitos. As atuações de João Miguel e Dira Paes (Rosa, antigo amor de João) estão realmente muito boas, mas o destaque vai para Vinícius Nascimento. O garoto, que na época das filmagens estava com 11 anos, foi uma grande surpresa. Com uma sensibilidade e um poder de transmitir emoções através dos olhos, o garoto atuou de forma espetacular.

Além de uma história intensa e com ótimas atuações, o filme conta ainda com belíssimas paisagens que mostram a riqueza do Nordeste do Brasil. A fotografia foi assinada por Lula Carvalho (Tropa de Elite e Paraísos Artificiais). O percurso do Nordeste ao Sudeste também foi marcado com as famosas frases de para-choques, que fazem analogia com as vivências de João, como: "Para quem não tem nada, metade é o dobro" e "Espere o melhor, prepare-se para o pior, e aceite o que vier", “Não há mal que perdure, não há dor que não se cure”.




À Beira do Caminho foi dedicado a Renata, mulher de Breno que faleceu recentemente de câncer. Durante entrevista no Cine PE – Festival do Audiovisual, em abril desse ano, o diretor revelou que o longa ficou parado durante um ano e meio devido à tragédia.

A trama foi muito além de uma homenagem ao Rei, Roberto Carlos, as canções complementam de forma sutil a forte e intensa história, contada muitas vezes através de olhares. Para quem ainda tem preconceito com produções nacionais está na hora de começar a perdê-lo, trabalhos muito bons estão sendo feitos e você está perdendo.



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