9 de fev. de 2012

Era uma vez: Os fins prejudicam os meios?

Posted by Gui Barreto On 23:02 0 comentários


Foram DOIS os únicos fatores que me levaram a comprar Eu Sou o Mensageiro, livro de 2007 do australiano Markus Zusak: 1. O preço da obra, que estava em promoção num site de compras; e 2. O fato de ele ter sido escrito pelo mesmo autor do excepcional A Menina Que Roubava Livros, best seller mundial de 2009. Perguntem-me se eu conhecia a história ou ao menos havia recebido a indicação de alguém. NÃO! Apenas com uma sinopse na mão e uma capa que eu achei interessante na cabeça, resolvi arriscar tempo e dinheiro em uma das maiores decepções do meu ano literário.

Foi após o estouro de vendas de “A Menina...” que Zusak foi posto nos holofotes de editoras do mundo todo e traduzido em diversas línguas. A obra imediatamente anterior ao seu ápice criativo, até então renegada pelos críticos e leitores, transformou-se em trampolim para que mais uma vez Suzak se lançasse como aposta literária. O plano, no entanto, não funcionou de melhor maneira. Apesar de na capa de Eu Sou o Mensageiro vir estampada a remissão ao best seller “A Menina...” como sendo de autoria da mesma pessoa, isso só fez com que os milhares de compradores “desavisados”, assim como eu, torcessem o nariz ao final da página 318.

A história é protagonizada por Ed Kennedy, um jovem taxista assumidamente fracassado. Ruim no jogo, no sexo e nos relacionamentos interpessoais, este rei das incompetências é confrontado pelo destino que o quer transformar num heroi às avessas quando o faz impedir um assalto a banco. Os reféns salvos, juntamente com o restante da população da cidade, que era pequena, passam a admirá-lo por algo que ele próprio não atribuía a si mesmo. Para Ed, sua vida inútil, juntamente com Porteiro, um vira lata viciado em café com quem dividia uma casa no subúrbio da cidade, iria continuar a mesma.

Uma série de entregas inesperadas, no entanto, mudam os planos de Kennedy. Ele passa a receber cartas de baralho pelo correio com instruções de nomes, endereços e dicas criptografadas. A missão do garoto a partir de então é encontrar as soluções para os códigos enviados nas cartas e, acima de tudo, resolver o principal enigma: quem estava fazendo aquilo com ele e porquê? Na busca desenfreada por respostas para os enigmas e para os problemas de sua própria vida, Ed vai encontrando pessoas com as quais aprende a conhecer a si próprio e a perceber a importância que tem na vida de alguns. Esta parece ser a grande lição do livro: autoconhecimento disfarçado de solidariedade.

Entretanto, o tom samaritano dado às ações do protagonista conferem um gosto moralista à leitura, que se torna “caxias” ao longo das histórias. Zusak não abandona seu estilo telegráfico e, hiperbolicamente, monossilábico de escrever, mas parece mastigar as entrelinhas mais do que fez em “A Menina...”, onde na verdade lançava questões diversas para a análise do leitor, sem se ater a escorregar para o lado certo ou errado da trama.

E, ao chegar no fim do livro, fica a sensação de “oi?” pairando no ar. As várias interrogações para tentar explicar onde Zusak estava com a cabeça quando escreveu o desfecho da história atrapalham qualquer tipo de análise mais profunda sobre o conjunto da obra ou que nos faça perdoá-lo pelo fim baseados no meio, que se salva por algumas boas sacadas. É a mesma história do Lost, que para alguns perdeu totalmente o brilho de suas seis temporadas pelo insosso último episódio. Parafraseando Maquiavel, será que os fins prejudicam os meios?

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