Uma coisa que procuro evitar fazer ao assistir um filme é criar muitas expectativas sobre ele. Expectativas boas ou ruins. É uma forma de aproveitar melhor o longa e, convenhamos, ser mais justo na hora de analisá-lo. Mas confesso que não consegui ir muito isenta assistir à Ilha do Medo. Martin Scorsese na frente do um suspense, com um elenco de primeira e com uma sinopse no mínimo instigante foram demais pra que eu resistisse à tentação de ficar ansiosa. Dos males o menor, pois não me decepcionei. Muito pelo contrário. O filme de Scorsese consegue prender o espectador ao longo de todos os seus 138 minutos de duração com um roteiro inteligente e momentos de tensão muito bem construídos.
A história começa com uma densa neblina, que aos poucos revela a balsa que leva o protagonista, o agente federal Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), para a ilha Shutter, a fim de investigar a fuga de uma paciente da prisão psiquiátrica que está instalada no local. O agente é uma pessoa perturbada pela morte da esposa Dolores (Michelle Williams) num incêndio provocado por um piromaníaco, e demonstra claramente sua incapacidade de superar o trauma, seja com seus angustiantes delírios, seja com o uso, sutil, da gravata verde presenteada por ela. Daniels chega à ilha na companhia do parceiro Chuck Aule (Mark Ruffalo) e eles são levados diretamente ao hospital psiquiátrico. A câmera acompanha o olhar dos agentes durante a passagem pelos imensos portões da prisão e a trilha de John Cage, que vai aumentando quanto mais perto “chegamos” da entrada, nos leva a sentir apreensão pelo que os personagens vão encontrar pela frente.
A atuação de Leonardo DiCaprio é impressionante. O personagem é muito complexo e difícil, mas o ator se sai muito bem no trabalho de dar vida ao atormentado agente. Mark Ruffalo interpreta bem o simpático Chuck, enquanto Ben Kingsley (o gigante!) está incrível como o dúbio Dr. Cawley. Destaque para a participação de Ted Levine como o diretor do hospício. Depois de um tenso diálogo entre ele e Daniels, somos levados a acreditar que ele é tão louco quanto os pacientes.
A fotografia de Ilha do Medo é um capítulo a parte. Extremamente eficaz e bem construída, ela nos conduz imediatamente a atmosfera do filme. A realidade sombria contrasta com o visual colorido dos sonhos e flashbacks. A montagem também faz um excelente trabalho, reforçando a idéia de sonho nos delírios de Daniels, como nos cortes nos movimentos da personagem de Michelle Williams, ou no belíssimo corte do hospital para os rochedos, quando os agentes e funcionários do local estão procurando pela fugitiva.
Para quem achou o filme confuso, talvez a uma segunda vista ele possa parecer muito mais claro, pois ao longo dele muitas pistas são dispostas. Desde a falta de jeito de policial de Chuck, passando pelos estranhos sonhos de Daniels (no primeiro Dolores aparece molhada, sangrando e só depois é carbonizada) e no próprio clima de loucura e desconfiança a que somos expostos durante a história.
Definitivamente o filme fica de dica pra quem está querendo uma ver uma ótima história. Ao contrário das minhas expectativas quanto ao público no cinema, minha sessão para o filme estava lotada, durante a exibição não houve muita manifestação e muitos saíram da sala discutindo seu desfecho, suas idéias, seus símbolos. É recompensador ver o cinema, ainda mais Martin Scorsese, dessa forma.
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