Por Gabriela Saldanha
Cada dia que passa eu percebo que estou ficando mais velha. Não que isso seja ruim, até porque é bom notar que, realmente, a maturidade é algo importante a ser conquistado a longo prazo, mas, já foi o tempo em que saber se a camiseta do uniforme do colégio está limpa "para amanhã" era um problema. Fato é que os adolescentes de hoje, ainda que bem parecidos, já não são os mesmos que os de ontem. É Facebook, Twitter, Instagram, e uma pancada de hashtags a nossa frente (os "velhos" da década de 90).
Certo. Resolvi contrariar uma das regras essenciais ensinadas no primeiro semestre de jornalismo e fiz esse nariz de cera (vulgo, enrolação) para dizer que minha irmã mais nova, é, muitas vezes, a minha principal fonte de notícias sobre o que acontece no mundo (virtual, digamos assim)...
E foi a Rafa quem me convenceu a assistir 2 Coelhos (2012), filme escrito e dirigido pelo estreante Afonso Poyart. "Gabi, é muito loco! Você vai curtir!". Não levei a sério essa "mini crítica" logo de primeira, mas, depois de muitos dias de insistência, (e com uma vontade adormecida de assistir um BOM filme), me rendi à indicação... HEADSHOT! Ela estava certa.
Com uma linguagem gráfica surpreendente e inovadora, trilha sonora e roteiro envolventes, o longa, do gênero ação/policial é capaz de conquistar o público nos primeiros cinco minutos só por não ser mais do mesmo. E o melhor de tudo: é um filme nacional.
Fora dos padrões, está longe de parecer uma novela na telona. A verdade é que cultura pop que se preze tem que ter Tarantino como referência. E é possível perceber traços dessa "escola Tarantinesca" na não linearidade do roteiro, no humor tipicamente sarcástico, nos diálogos nonsenses e na violência escrachada. Diria que Pulp Fiction é o avô de 2 Coelhos.
Edgar (personagem protagonista vivido por Fernando Alves Pinto) é o chamado anti-herói, ou o mocinho politicamente incorreto. O jovem vive (e não há como negar) num mundo nerd, rodeado de videogames, tecnologias e espadas samurai. Mas além desse universo quase de GTA, Edgar está inserido na mais bruta realidade deste país: pobreza, corrupção e selvageria.
A trama que, segundo o diretor, foi feita sob o pano de fundo do ideal sentimento patriota de "fazer justiça", torna-se interessante, pois trabalha muito bem com a questão das elipses de tempo e também abusa dos artifícios gráficos vindos da bagagem profissional do próprio Poyart (originárias da computação gráfica).
Alessandra Negrini (Julia), Caco Ciocler (Walter), Marat Descartes (Maicon) e grande elenco potencializam as críticas (nem tão sutis) aos problemas sociais. Questões até filosóficas como flexibilidade moral, de onde viemos e pra onde vamos, são muito bem expostas nos diálogos, cerca de 80% improvisados (como afirmou o diretor em entrevistas).
É possível brincar com o título (2 Coelhos) e à ele agregar muitos dos pares embutidos da história. Quem ou o que seriam esses dois sujeitos ou coisas... Críticas como: "O filme é muito americanizado e cheio de efeitos especiais" não devem ser levadas em conta, afinal criatividade não se delimita por território e se fosse pra ser reflexo idêntico da realidade a obra se chamaria vida e não filme.
Não faça como eu, não demore muito para assistí-lo. No fim, você também irá curtir!
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