Apesar do filme se passar em 1865, em meio a Guerra Civil entre o norte e sul dos EUA, Lincoln está longe de ser um filme de guerra. Na verdade, há poucos momentos em que o existem cenas nos campos de batalha. Apoiado nos diálogos e nas maquinações políticas, o longa de Steven Spielberg indicado à 12 Oscars se atém à discussão e consequente votação da 13ª emenda à Constituição norte-americana que acabaria com a escravidão no país. E o presidente Abraham Lincoln foi parte importante nesse momento.
Amado pelo povo, Lincoln representa o equilíbrio no filme. A todo momento ele se vê no meio de questões a serem resolvidas: no congresso, de um lado temos os democratas, escravagistas, e do outro há os republicanos abolicionistas radicais - ambos apresentam dificuldades para aprovar a emenda; na família, temos a esposa (Sally Field, um tanto exagerada) tentando proteger os filhos do horror da guerra indo contra os desejos do primogênito (Joseph Gordon-Levitt) de se alistar; e por fim, há a Guerra Civil. Esta última deixa o presidente enfrentando um dilema moral, pois ele poderia acabar com o derramamento de sangue, mas se o tratado de paz fosse firmado antes da votação da 13ª emenda, certamente ela seria recusada no congresso.
A performance de Daniel Day-Lewis é fantástica. O nascimento em Londres não impede o britânico de dar vida a um dos maiores presidentes da história dos EUA. Se a maquiagem já fez um trabalho incrível ao deixar Lewis parecidíssimo com Abraham Lincoln, sua atuação não deixa margem para duvidarmos de que ele encarnou de fato no personagem. Com uma fala rouca e mansa, movimentos que demonstram sua fragilidade, o ator demonstra não só a sua vulnerabilidade como a força por trás E ao que tudo indica, deve levar seu terceiro Oscar no dia 24 de fevereiro.
O veterano Tommy Lee Jones também faz um trabalho espetacular como o ranzinza Thaddeus Stevens e protagoniza alguns dos momentos mais tocantes do filme. Seu diálogo com o Lincoln de Day-Lewis é impressionante e é sempre bom ver um embate de dois gigantes do cinema.
É uma pena que o filme se perca em seu final. Após seguir o ritmo ditado pela votação da 13ª emenda no Congresso, Lincoln perde o fôlego em sua conclusão. A grande urgência que regia o filme dá lugar a sequências mais tranquilas e sem qualquer razão de existência. Fica bem óbvio onde o filme quer chegar e exageram na carga emocional. Não precisamos do discurso de Sally Field dizendo que o nome de Abraham Lincoln ecoará na história. Nós sabemos disso, estudamos isso, então ninguém precisa nos lembrar. E a cena em que Lincoln aparece discursando a partir da luz de uma vela é piegas demais.
Lincoln não deixa de ser maniqueísta, evocando a todo momento o status de mito do presidente norte-americano. Apesar de atentar para o fato de Lincoln ser um homem comum, sempre contando suas histórias e conversando naturalmente com todas as pessoas, Spielberg não perdeu a oportunidade de engradecê-lo a partir da fotografia e iluminação (mas não a partir da música, desta vez muito mais contida do que no terrível Cavalo de Guerra). Em certo momento, uma discussão com a senhora Lincoln vira um drama teatral, com o protagonista, claro, no "palco" arranjado a partir da disposição do cômodo.
Estes momentos infelizes de Lincoln não tiram o mérito do filme, que foi muito bem realizado e tem ótimas passagens além de interpretações fantásticas, mas deixam um gosto amargo ao fim da sessão.
Estes momentos infelizes de Lincoln não tiram o mérito do filme, que foi muito bem realizado e tem ótimas passagens além de interpretações fantásticas, mas deixam um gosto amargo ao fim da sessão.
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