Por Felipe Guines
A plateia de um show da Madonna reflete um pouco das mudanças que a cantora adotou ao longo de sua carreira: há pessoas mais velhas (sem a invejável forma física da cantora), mães que levam os filhos adolescentes para conhecer a Rainha do Pop, grupos de amigos que foram curtir o evento sem expectativas, "caça-eventos" que foram tirar fotos para o Instagram, casais gays que se beijam e abraçam sem medo de julgamento e os fãs fervorosos de Madonna, aqueles que compram até os filmes ruins que ela estrelou. Cerca de 58 mil pessoas que se reuniram nessa terça-feira, 4 de dezembro, com um único objetivo: atestar se a Material Girl ainda merece o título de Rainha, depois de três décadas de reinado.
O ensaio aberto, com Madonna ainda sem produção e de cara lavada, já dava indícios de que o show contaria com coreografias sincronizadas, tecnologia de última geração e um palco que é uma verdadeira exibição de poder. Simpática, Madonna ensaiava algumas músicas, conversava com a plateia e se divertia ao repetir "eu sou goxtosa?", para delírio dos fãs. Com a luz do dia, entretanto, os detalhes da iluminação ainda não eram perceptíveis e logo Madonna e seus dançarinos sumiram. Agora restava esperar....
Foto: Felipe Guines |
As luzes acenderam novamente e já começávamos a considerar a possibilidade de passar muito tempo (horas?) esperando pelo começo do show, quando fomos surpreendidos, pouco depois das 22h. No palco, monges encapuzados se posicionaram enquanto um canto gregoriano servia de trilha para a catedral gótica que era projetada nos telões. O público só vibra de verdade quando Madonna sai das sombras onde estava rezando e começa a cantar Girl Gone Wild, single do seu último álbum, MDNA. É uma emoção saber que Madonna é de verdade, com sua roupa justa, decote ousado, cabelo loiro e um corpo esculpido em horas de academia. "Devo tirar fotos, chorar, olhar os telões, cantar ou aproveitar o show?", me pergunto enquanto a cantora realiza os passos da coreografia com um vigor impressionante.
Esse dilema de "para o que olhar agora?" continuaria durante todo o show, já que as turnês de Madonna são mais visuais do que musicais. A música é apenas a trilha para os belíssimos vídeos exibidos, coreografias que desafiam a gravidade, elementos de cena que incrementam as performances e, claro, a própria Madonna! A cantora demonstra mais vigor e energia que grande parte das novatas e, se não tem uma voz impecável, compensa com muita dança e performances eletrizantes. A Material Girl também seguiu aquela velha cartilha de dizer que amava São Paulo e estava feliz em tocar no Brasil. Chegou a falar algumas palavras em português e tentou alimentar a rivalidade Rio X São Paulo, perguntando qual seria a plateia mais animada.
Foto: Flavio Moraes/G1 |
Anestesiado com tantas referências e imagens de impacto, é triste perceber que o show já está quase na reta final e que as duas horas de espetáculo passaram como minutos. Quando Madonna começa a cantar Like a Prayer, o Morumbi tem seu momento de catarse, cantando a oração profana de 1989. Nesse momento, mesmo quem não é fã deve ter ficado emocionado ao ver Madonna rodando abraçada com a bandeira do Brasil, uma tentativa de capturar a energia daquele momento. É como se todo o show trilhasse para essa comunhão e qualquer crítica sobre talento ou a idade de Madonna é pouco perante o domínio de palco que ela apresenta. Cubos coloridos surgem para o encerramento definitivo com Celebration. Não há bis, já que Madonna apresenta o show como um musical, com começo, meio e fim.
As luzes acendem e, aos poucos, recuperamos a consciência de que o show já terminou e que Madonna voltou a ser aquele ícone intocável, que agora só habita nossa memória. A vontade é já entrar na fila para o próximo show, quem sabe até para a próxima turnê, já que Madonna nunca deixou de nos surpreender e se reinventar. No caminho para casa, tento lembrar cada momento especial, a emoção ao ouvir as músicas preferidas e uma certeza: só existe uma Rainha, Madonna!
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